18 DE SETEMBRO DE 2014by admin
No dia 12 de setembro, no Teatro do Icbeu em Belo Horizonte, jornalistas e profissionais da comunicação de Belo Horizonte participaram de um diálogo internacional sobre a mídia e seus impactos na sociedade.
O evento foi promovido pela rede internacional Images and Voices of Hope (IVOH), no Brasil Imagens e Vozes de Esperança (IVE), com o apoio do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).
O diálogo contou com a presença de Gayatri Naraine. Instigaram o debate os jornalistas Roberto Baraldi, Ivana Moreira, Kerison Lopes, o designer Gustavo Greco, e também lideranças da rede IVE em Minas e da organização Brahma Kumaris.
Cecília Alvim, coordenadora do Ive Minas, abriu o evento enfatizando a importância de olhar para a realidade de frente, sem tentar disfarça-la ocultando ou ignorando fatos negativos. O problema levantado por todos os participantes foi a questão da mídia se direcionar apenas na difusão das notícias ruins. Durante a abertura do diálogo internacional, Cecília destacou que notícias ruins paralisam, desestimulam, deprimem. Entretanto, dependendo da forma como são transmitidas, podem ser os germes de esperança, a partir do momento em que sejam tratadas do ponto de vista da busca de reconstrução, criando mensagens restauradoras.
Com a tradução de Patrícia Schmidt, Gayatri Naraine destacou catástrofes ocorrem e que, enquanto a mídia mostra imagens repetidamente do fato e suas repercussões, grupos de pessoas se mobilizam em torno da superação e de como lidar com ela. “A mídia nos informa sobre as tragédias, o que é importante. Ela nos oferece números em torno delas, mas em pouco tempo se desloca para outras histórias. E negligencia quanto ao que é realizado em prol da superação daquela tragédia”, aponta. Segundo Gayatri, a mídia se esquece de nos contar o que é possível fazer a partir daquela história e perde a chance de oferecer o estímulo para a superação do trauma gerado em torno daquele acontecimento.
Gayatri lembrou ainda que jornalistas e comunicadores, que são treinados dentro da ética, já começam a se preocupar com o resultado de seu trabalho. O questionamento em torno dos rumos que a mídia está tomando é um ponto que requer atenção constante, pois é preciso saber quem vai acreditar nessa mensagem que gera traumas. Partindo desta dúvida, o IVE se propõe a ajudar na construção de mensagens restauradoras, funcionando como um reestruturador de esperança.
O jornalista Roberto Baraldi destacou que é importante jogar os olhos no pós-tragédia, uma vez que ela pode ser um ponto de partida para a reconstrução de uma realidade melhor que a anterior.
Gustavo Greco lembrou que a solução de um problema se encontra dentro dele mesmo, na maioria das vezes. “A vida muitas vezes nos oferece uma lata de sardinha, como ingrediente. Cabe a nós, aprendermos a preparar os melhores pratos com ela”, incentivou.
Como diretiva para assegurar o espírito esperançoso dos tempos em que se escolhe a profissão de jornalista, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Kerison Lopes, sugeriu que o profissional sempre se lembre do que o fez escolher esta carreira. De acordo com ele, nos momentos de maior pressão e que podem desestimular a busca pela informação de qualidade, é fundamental que o indivíduo se recorde das suas motivações para estar ali.
Já a editora-chefe da revista Veja BH, Ivana Moreira, foi categórica ao afirmar que é possível sim edificar uma carreira construtiva, mesmo trabalhando nos veículos mais tradicionais. Segundo ela, tudo depende da habilidade de alinhavar uma narrativa equilibrada, que dê voz a todas as partes envolvidas no fato. Para isso, a editora destaca que é preciso ser repórter a todo o momento e procurar enxergar boas pautas nas diversas situações do cotidiano. “Nenhum editor, por mais tradicional que seja, deixa de publicar um material bem trabalhado e investigado pelo jornalista. Para isso, é preciso acreditar no que se está fazendo e dedicar um bom tempo na pesquisa e análise do material”.
O diálogo foi encerrado com a participação da plateia fazendo perguntas e comentários. E a consolidação da proposta da reflexão em torno dos impactos que o trabalho do comunicador leva para o público. Enquanto a mídia se mantém presa à prática de apenas relatar a aspereza da realidade, ela funciona como elemento fomentador de traumas, desânimo, aprisionando a sociedade na ideia de que o mundo é ruim e não se pode fazer nada quanto a isso. A proposta do IVE é levar esperança para as pessoas através de narrativas reconstrutoras, a partir da constatação de que é possível estimular a os indivíduos a fazer coisas enriquecedoras, inspirando-os. Ninguém precisa ficar preso ao fato de que há coisas ruins. Pode-se ir além, quebrar barreiras e partir para tirar todas as lições que um episódio negativo pode oferecer.
Fotos: Mark Florest
Texto: Zilda Assis