Uma história vitoriosa de mudança no jeito de fazer comunicação.
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Com o objetivo de celebrar os 21 anos do IVE no Brasil bem como o lançamento da nova logomarca e da nova plataforma digital, foi realizado um diálogo online no dia 14 de abril de 2021 reunindo cerca de 35 comunicadores. Com a facilitação de Irineu Toledo, jornalista e radialista, o programa foi uma parceria da Rádio Positiva e da Brahma Kumaris. Capturamos da live os relatos e visões dos participantes que foram transformados pelo IVE e que transformaram outros também. Leia abaixo:
Luciana Ferraz, dirigente da Brahma Kumaris no Brasil, que criou as condições para a instalação do capítulo brasileiro do IVE, destacou a importância do movimento para a mídia exterior e interior.
“O IVE começou no Brasil há pouco mais de 20 anos quando trouxemos a norte americana fundadora do movimento, Judy Rodgers, para um diálogo no Rio de Janeiro. O propósito desse movimento é levar o comunicador a reconhecer a importância que ele tem e os valores presentes na imagem ou mensagem que ele está trazendo ao público. Um comunicador mais consciente e atento ao impacto que sua veiculação provoca nas pessoas é capaz de ser um agente de mudança no seu meio. Ele também passa por vários desafios: a experiência de estresse, a necessidade de ter clareza, precisão, foco e atenção. O papel da Brahma Kumaris, além da questão da conscientização e prática dos valores, é proporcionar a experiência de paz e destacar a importância de conhecermos essa mídia interior antes de expressar na mídia maior, na mídia social.”
Cristiane Ramires, designer e UX, residente em Nova York, construiu o novo site com Wans Spiess e Brígida Fries, e falou dos objetivos e avanços da nova plataforma.
“O objetivo principal do novo site é: reunir mais a comunidade do IVE, tornar esse espaço mais colaborativo e alcançar e inspirar mais pessoas. Está dividido em vários canais. Em “Sobre” temos a história, a equipe e a missão do movimento. Em “Comunidade” – principal veículo dessa plataforma – estão reunidos os depoimentos dos comunicadores, o manifesto desenvolvido coletivamente e eventos. Em “Notícias” – principal conteúdo da plataforma – estão as histórias, artigos, experiências, iniciativas, áudios e vídeos. Para assessorar os novos colaboradores foi criado o canal “Como fazemos” com a documentação, artigos, metodologia e apresentações. Em “Na mídia” estão matérias que criaram impacto na comunicação.”
Judy Rogers, fundadora do Images and Voices of Hope em Nova York, enviou uma mensagem em vídeo reafirmando a importância das narrativas nesse período de grandes transformações no mundo.
“Em que nós acreditamos juntos ao longo desses anos? (1) Acreditamos que as imagens e mensagens externas afetam não apenas nossos estados internos, mas afetam a conversa e o discurso público nos lugares onde vivemos. (2) Acreditamos que, embora tenhamos que falar sobre coisas ruins, porque muitas coisas ruins acontecem, parece que o trauma se tornou o meio crônico em nossos tempos, mas não devemos focar apenas em uma coisa ruim e na próxima coisa ruim e na próxima coisa ruim. (3) Temos que ter uma prática reflexiva para ter o tipo de visão que pode ver promessa e esperança mesmo em um momento muito difícil ou escuro. Temos que ser capazes, por meio da oração, meditação ou contemplação, de localizar a fonte de bondade, amor, paz, simpatia, cuidado e felicidade que vive em todos os seres humanos.
Esse trabalho que vivemos na mídia não é apenas um trabalho. Acreditamos que é uma vocação. É um chamado para servir nossas comunidades, nossos países e o mundo porque quando as pessoas estão tristes ou amedrontadas ou preocupadas ou desanimadas, elas não precisam de imagens que as deixem ainda mais desanimadas, ainda mais tristes, ainda.
“Lembro de uma palestra que Dadi Janki, ex-chefe da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris, ministrou durante um diálogo para líderes na Inglaterra. A palestra era sobre a paz e quando ela terminou um jovem da África que estava no grupo agradeceu e disse: “Mas de onde eu venho seria inapropriado falar sobre esperança, amor e paz porque as coisas não vão bem lá. Temos epidemia de Ebola, temos violência. Há tantas coisas angustiantes para as pessoas.” Dadi Janki foi até ele e disse: Não há poder na raiva. O poder está nos atributos naturais da alma. Existe poder na paz. Existe poder no amor. Existe poder na gratidão. Existe poder na empatia e felicidade. Não há poder na indignação justa.”
“Portanto, quando contamos histórias sobre nossos tempos, temos que falar sobre as coisas ruins que estão acontecendo, mas podemos nos concentrar no arco narrativo da restauração. Mesmo a partir de algo muito difícil, a pesquisa nos diz que 80% das pessoas têm personalidades resilientes, que são nocauteadas, mas se recuperam, se levantam, ficam melhores. Muitas vezes, após uma experiência muito perturbadora, as pessoas realmente voltam mais sábias e mais fortes. E nossos corações nos dizem que a bondade, o amor e a esperança são mais fortes do que o medo, a violência e a tristeza. Então, para todos vocês que estão liderando este movimento que chamamos de Imagens e Vozes de Esperança, parabéns pelos 21 anos. Que vocês sejam corajosos, criativos e determinados em seu compromisso de levar esperança ao Brasil e ao mundo.”
Christina Carvalho Pinto, de uma empresa importante de comunicação e com muitas responsabilidades, se aproximou do IVE logo no início e isso provocou mudanças na estrutura da empresa que liderava (Full Jazz). Ela colaborou muito com a construção da nova logomarca e com a comunicação do IVE.
“Sinto-me uma grande ativista do IVE. Não grande pela repercussão, mas dentro do meu coração o IVE tem um papel tão transformador na minha história que tudo se torna maior. Eu conheci o IVE quando estava numa fase de grande desesperança, muito desanimada com os caminhos da comunicação e de atuar num universo que lida com marcas. Foi num encontro do IVE no Rio de Janeiro que algo muito importante brotou dentro de mim chamada esperança. Não a esperança de esperar, mas de estar esperançoso. A esperança de estar com uma nova energia em movimento. E sabendo que novas energias em movimento mudam cenários, o primeiro cenário que elas mudam é o nosso cenário interior. A partir da descoberta desta possibilidade de atuar no setor de comunicações como um ponto de luz, comecei a olhar a profissão com outros olhos. Eu percebi que como ponto de luz ativo eu tenho esse papel que pode despertar em outros seres humanos os seus respectivos papéis como pontos de luz onde quer que estejam, o que quer que estejam fazendo, em que profissão estejam.
Ainda existe muita hipocrisia no mundo empresarial, mas temos que olhar sim para as empresas que estão procurando fazer algo bom para o mundo interno, para o mundo externo, através do que produzem, de como produzem, de como isso impacta a vida de todo o universo natural. Parece que muitas empresas de jovens já vem com esse DNA. Eu decidi dar a mão para quem quiser mudar o jeito de pensar comunicação. Pode ser um conteudista, pode ser uma empresa, pode ser uma marca, pode ser um ser humano. Pode ser tanta coisa e podem ser tantos. Descobri que não é possível construir marcas mais do jeito que se fazia. Nós, em plena pandemia, criamos outro jeito de trabalhar. Ele se chama HOLLUN. Ele é inteiramente Imagens e Vozes de Esperança. Ele é um filho do Imagens e Vozes de Esperança. Quando a gente percebe que uma empresa está querendo muito chacoalhar suas raízes, levar luz lá para dentro, oxigenar as almas, então a gente vai mexer com as raízes. Precisamos sentir se isso é legítimo, sincero. Se for legítimo vamos nos desdobrar porque podemos trabalhar com mais expressões daquilo que é verdadeiro. Eu sei que o meu dom é comunicação. Através do IVE esse dom se transformou em fé maior, em certeza de que cada um de nós é um Oceano de possibilidades. E eu tento viver esse Oceano que me habita porque é Deus. Quando Deus te habita nada te limita. Eu não tenho nenhum limite. Eu tenho muita esperança”
A nova logomarca do IVE, criada pelo meu querido parceiro Luiz Lobo, brilhante e premiadíssimo diretor de arte. Essa nova marca tem o “e” muito grande. É um mix de lilases, rosas. Rosa é a cor do amor. A vibração do lilás é transmutação. O feminino também tem essas cores. E não é uma questão sexista. O feminino enquanto capacidade de ser acolhimento. Capacidade de ser a terra que recebe a semente. Quando você fala Imagens e Vozes de Esperança é a “esperança” que brilha. Esse logo tem muitos reflexos luminosos saindo justamente da esperança. Esperança ilumina. Imagens e Vozes de Esperança é luz. É luz em qualquer profissão, mas é luz acima de tudo em todos nós que influenciamos outras profissões. Em todos nós que plantamos esperança ou desesperança. Eu optei por ser esse “e” bem grande espalhando só rastros de luz.
Nádia Rebouças, que tem uma forte presença no ambiente de comunicação organizacional e usa a palavra transformação na comunicação como seu conceito de trabalho falou conosco diretamente do Rio de Janeiro.
“Eu recebi de presente da vida poder ficar seis anos trabalhando na comunicação da Ação de Cidadania ao lado do Betinho. Eu já era uma profissional de publicidade em crise e o Betinho me deu o pirulito: a comunicação não precisa vender produtos, ela pode vender ideias. Ele me disse: é indigno as pessoas passarem fome. A esperança se vê traduzida na solidariedade das. Da mesma forma que eu aprendi na Brahma Kumaris que a gente pode fazer diálogos, isso virou um instrumento de trabalho tão fundamental que eu desenvolvi um projeto que se chama Diálogos Essenciais, totalmente baseado nos Diálogos Apreciativos onde a gente conversa e tenta fazer com que essa conversa seja geradora de esperança primeiro para dentro de cada um e segundo para aquilo que estamos colocando na temática. Eu conheci a Judy e tive a experiência de trazê-la para um encontro na ABERJE onde participaram 120 comunicadores de empresas. O meu objetivo era levar o raciocínio dela para dentro dessa população, para comunicadores que tem um poder imenso porque estão dentro das empresas. E eles viraram meus grandes parceiros na vida. Aprenderam muito com Imagens e Vozes de Esperança enfrentando, às vezes, dificuldades incríveis para implantar o diálogo entre empregados, entre as hierarquias e levar esperança para todos eles.
O meu mundo saiu dos publicitários para os comunicadores internos onde realmente eu tenho muitos amigos. A comunicação interna para mim é fundamental porque leva essa esperança para as pessoas traumatizadas no trabalho. E hoje, esse desfio é ainda muito maior, as pessoas estão trabalhando on line, em casa e os fazeres estão muito mais complexos. É um momento difícil onde estamos sendo desafiados a ter muita esperança. E mais do que nunca as Narrativas Restaurativas. Eu percebo até nos profissionais da Globo a influência que o IVE teve. O André Trigueiro criou Cidades e Soluções onde ele denuncia tudo que acontece no meio ambiente, mas criou um programa onde ele foi buscar soluções para influenciar pessoas. A Leilane Neubarth acabava o jornal muitas vezes dizendo “boa noite, com esperança”. Eu a via trazendo os nossos encontros do IVE. Muitos jornais hoje têm o desejo de acabar com uma notícia positiva apesar de estar dando notícias de morte, morte, morte, lá vem uma história de uma pessoa com solidariedade. O IVE foi um movimento silencioso. No silêncio ele gerou uma profunda transformação nos comunicadores e no produto da comunicação. Isso me traz alguma esperança. De todas as coisas que vem sendo destruídas nos últimos tempos das quais eu participei da construção, o IVE não foi destruído. Ele está aí. O IVE tem uma história vitoriosa de 20 anos, vitoriosa sem alarido, vitoriosa no coração de cada um de nós que trabalha com a comunicação com uma palavra essencial que é o amor.”
Cecília Alvim, jornalista e colaboradora do IVE, falou da história transformadora do IVE em Minas Gerais e como esse trabalho impactou a vida de tantas pessoas.
“Em 2007, eu participei do IVE Cone Sul (Caetés, MG). Eu buscava referências para um trabalho diferente que trouxesse impacto positivo no mundo. A gente está no mundo para deixá-lo mais bonito. Encontrei no IVE a inspiração de fazer algo a partir do coração e dos valores. Após esse evento, criamos um caminho e a partir daí pessoas foram sendo inspiradas e muitas ações aconteceram.
Em 2008, houve encontros com a Judy em três faculdades reunindo cerca de 500 estudantes. Em 2009, criamos o Núcleo IVE com profissionais de Belo Horizonte e região. Passamos a fazer diálogos apreciativos para profissionais de comunicação e publicidade, frequentemente. Criamos o blog IVE Minas com atualização permanente. Em 2016 promovemos o diálogo “Novas narrativas em tempos difíceis” em Igarapé, MG. Foi uma conversa com profissionais de Minas, São Paulo e Rio. Tivemos uma premiação que era uma forma de conversar com os jornalistas dos veículos de Minas, valorizando matérias com enfoque IVE. Nesse período aconteceu a tragédia de Mariana. Nossa cidade estava muito impactada com tudo isso e jornalistas fizeram coberturas com enfoque humano, ouvindo as histórias. Matérias da Radio Itatiaia, Estado de Minas, Revista Sorria foram premiadas pelo IVE.
O IVE significou grandes impactos no meu trabalho pessoal. Eu e a Debora Junqueira trabalhávamos no Sindicato de Professores de Minas, um lugar que muitos pensam ter uma pauta muito aguerrida. Porém, influenciadas pelo IVE, conseguimos dialogar com enfoque de transformação da realidade . Fizemos programas de TV que foram transmitidos pela TV Bandeirantes e pela Rede Minas de TV. Foram mais de 14 premiações decorrentes das pautas construtivas que escolhemos desenvolver nas nossas mídias. A revista “Elas por Elas” recebeu o prêmio nacional de jornalismo com pauta de gênero, algo que sempre quisemos abordar.
Contar um pouco dessa história é alimentar e reviver a esperança para seguir em frente. Olhando para a História, vemos o quanto iluminamos até agora e também o quanto ainda precisamos iluminar nos tempos que estamos vivendo.”
Débora Junqueira, jornalista e coach, complementou esse capítulo IVE Minas e falou sobre o que mudou na sua vida e na sua relação com a informação.
“Como editora de revista (Elas por Elas) eu pensava em como iremos aplicar isso na prática? Eu não podia mudar uma notícia com impacto negativo, mas a gente pensava em soluções para os problemas. Por exemplo, o Simpro fez uma campanha chamada “Paz na Escolas”. Além de pautas propositivas conseguimos também trabalhar dentro da gestão. Levamos os diálogos apreciativos do IVE para as reuniões, inclusive com nossos chefes. Eles foram embarcando naquelas ideias. Um deles era professor universitário e nos levou para falar na turma dele. Isso foi criando algo positivo ali. E com toda essa história de protagonismo foi despertando em mim uma possibilidade de ampliar isso. Então comecei a implementar outro plano de carreira como coach com o objetivo de ajudar as mulheres uma vez que eu era da revista.
Sou responsável pela curadoria das notícias do facebook (@ivebrasil). Estou sempre colocando notícias boas: a vacina, uma rua que se chama esperança, etc. Mas também tratamos a questão da narrativa restaurativa, de buscarmos fazer um jornalismo investigativo que aprofunde o que está por trás. Através das notícias de crimes você fica sabendo de todos os detalhes, mas quais são as histórias dessas pessoas? São as histórias que conectam. Estou contando aqui a influência do IVE na minha carreira. Sobre fazer uma escolha por pautas propositivas e isso me levar ao sucesso. E a partir daí mudar para o coaching e aprender através de perguntas poderosas. Eu tinha uma necessidade de saber o impacto que a minha informação estava causando. Hoje, no 1 X 1 com uma cliente, isso me dá mais satisfação pessoal. O meu relato aqui é através da minha transformação, de ter tido fontes e energias positivas. E não só ser jornalista ou coach, mas me ver como mídia. O que eu compartilho? Hoje eu faço uma reflexão muito maior sobre o que eu vou postar. Todo mundo sabe qual é o impacto quando você pega o celular e você vê as notícias do dia. E no final do dia, se você for dormir você dorme mal. Como isso impacta as pessoas.
Que esse caminho silencioso do IVE possa ir para todos os cantos, chegar à maior parte das pessoas. Como Mia Couto fala, é preciso ter coragem para ter esperança no mundo em tempos difíceis, onde as pessoas naturalizam que devemos estar tristes e com vários sentimentos que não são os valores principais do ser humano. Podemos construir não só uma comunicação, mas uma civilização onde a gente preserve a natureza com tecnologia e com pessoas mais humanas.
Para finalizar, Irineu levou o grupo para uma reflexão sobre o futuro:
Uma resposta em “21 anos de Imagens e Vozes de Esperança no Brasil”
Adorei conhecer o trabalho de vocês!