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Como usar as redes sociais para somar?

por Débora Junqueira*

As redes sociais exercem uma influência significativa sobre o comportamento e a cultura na sociedade brasileira. Elas são palco para a disseminação de tendências culturais, modas e movimentos sociais, atuando como catalisadores da mudança e da formação de opinião pública. Também é fato que as redes sociais trazem muitas possibilidades, como o aumento da interconexão entre pessoas e ideias, que antes não aconteciam de forma tão rápida. Pode-se dizer que, na prática, há uma revolução acontecendo na forma como as pessoas se informam, compartilham histórias e até mesmo empreendem.

No Brasil, a estimativa é que 66% da população acesse as redes sociais, passando em média 3 horas e 37 minutos por dia navegando nas principais plataformas. As mais acessadas são o Whatsapp e o Youtube, depois o Facebook, seguidos pelo Instagram, Tiktok e o X, conforme dados de 2024.

No entanto, se por um lado, hoje há mais canais de informação, disseminação de ideias e muito mais chances de conexões por meio das redes sociais e da internet, na outra ponta o excesso de conteúdos atrativos e viciantes, além do bombardeio de anúncios direcionados pelos algoritmos e mecanismos de inteligência artificial, geram uma série de problemas, entre eles a dependência digital. As consequências desses transtornos podem ser sentidas por uma geração de jovens e crianças nitidamente mais ansiosos e adultos com queixas de solidão e problemas de saúde física e mental.

Mesmo num universo tão conectado e com tantas opções de redes sociais, uma pesquisa da Meta e do Instituto Gallup, de 2023, mostra que mais de um bilhão de pessoas no mundo se sente muito ou razoavelmente solitárias. Ou seja, cada vez mais as pessoas vivem só por si ou para si. A questão é que o isolamento social tem consequências graves para a saúde e o bem-estar. O problema chega a preocupar a Organização Mundial da Saúde (OMS) que já anunciou a criação de uma comissão sobre conexão social para fazer frente ao que se chama de epidemia global de solidão.

Diante dessa realidade, é importante refletir sobre como lidar com os desafios que o uso desmoderado das redes sociais trazem, assim como com a grande quantidade e a qualidade dos conteúdos disponíveis. Se não é possível parar essa locomotiva virtual, pelo menos podemos pensar no impacto do que compartilhamos, seja numa postagem ou nos seus comentários. A partir daí, pensar no que fazer para usar as redes sociais para somar e gerar conteúdos de valor. Esses questionamentos fazem parte das propostas do Imagens e Vozes de Esperança (IVE), movimento que reúne comunicadores e pessoas voluntárias que se interessam em aumentar a conscientização sobre as questões que envolvem a comunicação interpessoal e de massa. O IVE tem incentivado reflexões sobre o impacto da mídia, contribuindo para que mais pessoas possam despertar sobre a necessidade de resgatar o poder da comunicação como instrumento de transformação social.

Pausa necessária

Nesse aspecto, a dica é começar fazendo uma pausa para pensar no padrão dos conteúdos compartilhados ou consumidos. Tomar consciência do problema, como o vício e a dependência digital já é um grande passo. Muitas pessoas não percebem que ao olhar compulsivamente para o celular e seus inúmeros aplicativos podem já estar vivenciando alguns fenômenos modernos, como os que os especialistas denominaram de monofobia, medo de ficar sem internet, ou o Fomo (fear of missing), medo de ficar de fora.

Para quem ainda não consegue identificar os problemas, basta observar os sintomas. Normalmente, impaciência, impulsividade, ansiedade, chegando a Síndrome de Burnout (esgotamento no trabalho). O foco roubado pelo excesso de notificações também pode agravar o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA). A recomendação da OMS é regular o tempo e a qualidade do que se vê na internet.

Às vezes, o medo de desagradar os outros ou mesmo ser rejeitado, também impede algumas pessoas de se posicionarem nas redes de forma assertiva. Isso pode gerar sentimento de frustração e tristeza, porque há uma necessidade interna de se expressar, ser ouvido e exercer o direito de cidadania, participando da vida social. Se ainda é desafiador regular o uso da internet de forma consciente, uma dica é começar a usar o próprio desconforto como bússola para se alcançar autoconhecimento e chegar a etapa de definição de estratégias para a mudança de hábitos.

As redes nos fazem conviver com pessoas muito diferentes de nós. Muitas vezes, isso traz desconforto, mas podemos pensar que é positivo compartilhar culturas diferentes e treinar a tolerância, ampliando a visão de mundo. Lembrando que, dependendo da situação, não há nada de errado em deixar de seguir os perfis que nada acrescentam.

As três peneiras

Em primeiro lugar, pare, pense e se pergunte se aquele conteúdo ofende alguém ou vai acrescentar algo, só depois compartilhe. Lembre-se das três peneiras da sabedoria, do filósofo Sócrates. A primeira peneira é a verdade. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, mas não tem certeza da sua veracidade, a coisa deve morrer aqui mesmo.  Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a bondade. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a necessidade. Convém contar? Resolve alguma coisa? Melhora a comunidade? Pode ajudar o planeta?

Também é fundamental abastecer a mídia interior, absorvendo conteúdos de valor, desenvolvendo inteligência emocional e aprendendo a se posicionar e a colocar limites de forma mais assertiva e menos impulsiva. Não tenha medo do conflito e sim do desrespeito, do preconceito e do ódio.

Por fim, siga os perfis que alimentam as necessidades da sua alma. No Instagram siga o @ive_imagensdeesperanca e veja os conteúdos sobre esse tema. A partir de cada um de nós podemos lançar sementes que inspirem uma mídia mais construtiva, diversa e transformadora.

Tenha o pensamento crítico e colaborativo e encante-se com o que há de belo ao seu redor, como diz esse trecho do livro “Comunicação Digital na era da participação”, da Poliana Ferrari.

Para inspirar

“Só o encantamento e a conexão com o tempo presente conseguem driblar a dureza da vida conectada. Só se reconfigurando com sua divindade interior conseguimos ter uma postura de abertura para o belo, para o bem e para o bom. Não um bom individualista, mas coletivo. Abuse da economia criativa, faça circular mais trocas e menos cartões de crédito. Use a rede para somar. Encantamento capaz de usar o WhatsApp para ajudar a diminuir a criminalidade… Encantamento e curiosidade de perceber que precisamos trocar o consumo, seja de parceiros ou sapatos, por projetos que aliados à tecnologia possam fazer diferença na vida dos seres humanos no planeta terra”.

*Debora Junqueira – Jornalista mineira, assessora de Comunicação e especialista em desenvolvimento pessoal. Voluntária do movimento Imagens e Vozes de Esperança (IVE).

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